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CEFET-MG

Projetos de ensino refletem sobre história africana e cor da pele na sociedade

Quinta-feira, 25 de junho de 2020

(Re) contar a história negra e despertar o olhar para o preconceito racial presenta na sociedade: esses são os objetivos de duas ações criadas nos campi Divinópolis e Varginha do CEFET-MG que, em tempos de pandemia, buscam estender a formação crítica dos estudantes, e da sociedade como um todo, para questões emergentes do nosso tempo. Iniciativas como essas integram o edital de ensino durante a pandemia do novo coronavírus, que aprovou 150 propostas de projetos.

Nsanda: Grupo de Estudos Africanos e Afro-brasileiros

“Eu percebi que na escola contam a nossa história a partir da escravidão, pelo ponto de vista dos brancos europeus, mas eu quero mostrar que não é assim, que nós viemos de reinos africanos, somos descentes de reis, rainhas, guerreiras, guerreiros, eu quero que o meu filho tenha a autoestima de um príncipe africano.” Essa cena foi interpretada pela atriz Belize Pombal na série Sessão de Terapia. Mulher, negra, doutora em sociologia, Maria Lúcia, sua personagem, viaja o país e o mundo tentando narrar a história negra no Brasil por um outro ponto de vista.

O desejo de Maria Lúcia não é apenas legítimo, mas necessário; da ficção para a realidade, é também objetivo do Grupo de Estudos Africanos e Afro-brasileiros (Nsanda), criado pela professora do CEFET-MG em Divinópolis Kellen Cristina Silva.

“O projeto anseia disseminar conhecimento sobre a África e a cultura afro-brasileira, contribuindo para o aumento do capital cultural dos alunos e dos interessados, nesse período de pandemia, além de ajudar a quebrar o preconceito e a visão estereotipada do continente africano. Com as discussões, pretendemos abrir a mente para a diversidade cultural presente em nossas raízes, além de compreendermos os caminhos da construção do racismo estrutural. Apenas com esse conhecimento conseguiremos, em equipe, desmistificar a ideia de democracia racial e compreender nossa identidade como brasileiros mestiços e nossos respectivos lugares de poder e de fala nessa sociedade”, descreve a professora.

Pensado inicialmente para os alunos do técnico integrado do campus, o grupo extrapolou as expectativas. Estudantes de cursinhos, universitários, profissionais liberais, professores e funcionários do CEFET-MG e um frei franciscano se inscreveram na iniciativa, que já soma 62 integrantes. Até o momento, dois encontros aconteceram pela plataforma Google Meet. Ao todo, serão sete reuniões, sempre às quintas-feiras, 16h, podendo ser estendida ao término do plano de ensino, explica a professora.  Os interessados no grupo ainda podem se inscrever gratuitamente. Antes de cada aula, são disponibilizados os textos para os integrantes do grupo, bem como o link de acesso à sala digital do encontro.

Nome do grupo

Nsanda é uma espécie de figueira comum na região da África centro-ocidental e que possui forte significado para os povos Kongo (Bakongo) e Mbundu. O nome do grupo é uma tentativa de resgate da história do povo negro no Brasil. “Quando falamos de ancestralidade, família e suas histórias, a imagem que se forma claramente em nossa imaginação é da arvore genealógica. Contudo, os afro-descentes brasileiros não possuem tal linha do tempo, devido à violência do tráfico, bem como ausências nos registros religiosos de batismo. Os negros africanos que aqui chegavam eram nomeados de acordo com o porto em que eram embarcados: angola, benguela, cabinda… e ao desembarcarem, logo assumiam nomes de santos católicos e sobrenome dos donos portugueses”, explica a professora Kellen.

A cor…

Como a trajetória de vida de uma pessoa pode ser marcada em função da cor da sua pele? Uma professora universitária residente em Belo Horizonte, um diretor de escola pública estadual em Varginha, um estudante de Educação Física da cidade de Ilhéus (Bahia) e um assistente social de Ouro Preto, em comum o fato de serem pretos, traçam suas perspectivas em entrevistas por videoconferências durante o projeto de ensino do CEFET-MG em Varginha “A cor…”

Segundo o coordenador, professor Paulo Mappa, o objetivo da ação, destinada inicialmente a todos os alunos do campus Varginha (do técnico à pós), é levar a atenção dos participantes para a interferência da cor da pele em experiências e expectativas das pessoas.

Ao todo, serão seis encontros, um por semana, com duração de 30 minutos, sempre às 18h. Embora já tenha acontecido o primeiro, as inscrições ainda podem ser realizadas on-line. Membros da comunidade externa também são bem-vindos ao grupo, destaca o coordenador. Um questionário será aplicado aos participantes, buscando entender a percepção sobre o tema. Ao final, um pequeno texto sobre o assunto deverá ser produzido.

“Precisamos formar cidadãos capazes de compreender a sociedade em toda sua complexidade e amplitude baseados em princípios da ética e da igualdade de direitos. Que os participantes possam levar o próprio olhar para o preconceito racial existente na formação de nossa sociedade”, espera o coordenador da iniciativa ao final dos encontros.

Redação  – Secretaria de Comunicação Social/CEFET-MG