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CEFET-MG

Precisamos falar sobre o suicídio!

Sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Em ação do setembro amarelo, CEFET-MG dialoga com psiquiatra sobre causas e prevenção da prática de suicídio, que faz uma vítima a cada 40 segundos no mundo

 

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), no Brasil, são registrados, anualmente, 12 mil casos de suicídio. No mundo, são mais de 800 mil ocorrências, isto é, uma morte a cada 40 segundos. Dados preocupantes como esses fomentaram a criação da campanha “Setembro Amarelo”.

Essa proposta surgiu em 2014 no Brasil, através de uma iniciativa trazida da Associação Internacional para Prevenção do Suicídio (Iasp) pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
Para reforçar a campanha e orientar a população, convidamos o psiquiatra do CEFET-MG, Gustavo Coutinho de Faria, para falar sobre suicídio e alternativas para lidar com esse problema de saúde pública.

 

CEFET-MG: Transtornos psiquiátricos não diagnosticados ou sem tratamento adequado são os principais fatores de risco para o suicídio, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Quais são os sinais e sintomas de alerta que precisam ser observados por quem pensa em cometer suicídio e por pessoas próximas a ela?
Psiquiatra: A principal barreira em se reconhecer uma pessoa com risco de suicídio é o medo de perguntar sobre isso. Muitas pessoas deprimidas se esforçam para parecer estar bem, pois sentem vergonha ou não querem incomodar os familiares e amigos. O preconceito também atrapalha muito: várias pessoas acreditam, por exemplo, que perguntar sobre pensamentos suicidas poderia induzir tais ideias em quem não estaria pensando a respeito. Outros ainda acreditam que suicídio é uma fraqueza, covardia, uma forma de chamar atenção ou que quem quer morrer “de verdade” não será despersuadido. Tudo isso contribui para a dificuldade em buscar ajuda e para aumentar os sentimentos de desamparo e falta de esperança. Estão em maior risco as pessoas com planos suicidas concretos, aquelas com sentimentos de profunda desesperança, com delírios de culpa ou ruína, com alucinações auditivas de vozes de comando para cometer suicídio, que já realizaram tentativas prévias de suicídio, que são muito impulsivas ou que fazem abuso de substâncias.

 

CEFET-MG: Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é a principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Quais são as possíveis causas desse índice? 

Psiquiatra: O suicídio é um fenômeno complexo e, por isso, existem muitas razões para o aumento do risco entre os jovens. Esta idade é marcada por profundas transformações biológicas características e ocorre um significativo aumento da impulsividade. Os transtornos mentais, como a depressão, costumam se iniciar nesta faixa etária e também contribuem para este aumento do risco. Além disso, trata-se de um período crítico do desenvolvimento, no qual o jovem começa a assumir papeis e responsabilidades adultas. Geralmente, são nesses anos que ocorre o primeiro emprego, a saída da casa dos pais, os desafios da universidade, o primeiro contato com álcool e outras drogas, exposição à violência urbana e conflitos de relacionamento. Importante salientar, ainda, que a crise política e econômica que estamos enfrentando afeta, sobretudo, os jovens, que precisam lidar com a falta de perspectivas oriunda do desemprego, dos conflitos ideológicos, da insuficiência familiar e do declínio das figuras de autoridade.

 

CEFET-MG: Ainda de acordo com dados da OMS, 90% dos casos de suicídio poderiam ser prevenidos. Como é possível começar esse trabalho de prevenção?
Psiquiatra: A base da prevenção consiste em reduzir os fatores de risco modificáveis e fortalecer os fatores de prevenção. Discutir sobre suicídio nas escolas, família, redes sociais, ajuda a quebrar preconceitos e estimular que pessoas em sofrimento busquem ajuda e voltem a sentir esperança. O tratamento adequado dos transtornos mentais é capaz de reduzir significativamente o risco, pois é muito raro que alguém cometa suicídio sem que apresente um transtorno. Precisamos de políticas públicas que facilitem o acesso ao tratamento e que previnam o abuso de álcool e drogas, um dos grandes gatilhos modificáveis do suicídio. Por outro lado, os principais fatores de proteção a serem estimulados são os laços sociais. Assim, uma forte vinculação e participação na família e comunidade, incluindo igreja, escola, trabalho e esportes pesam para a vida na mente de uma pessoa ambivalente com pensamentos de morte.

CEFET-MG: Profissionais e pesquisadores têm dificuldade em encontrar dados e estatísticas sobre o assunto, que ainda é considerado um tabu socialmente. Como é possível falar sobre o suicídio sem incentivar a prática?

Psiquiatra: O medo de que falar sobre suicídio pode incentivar a prática é bastante superestimado e certamente vivemos o problema oposto, de que o assunto, sendo tabu, dificulta a procura de ajuda e a prevenção. Devemos ter cuidado para não expor as pessoas que tentaram ou cometeram suicídio, pois além de constranger o indivíduo e familiares sobreviventes, pode produzir o chamado efeito Werther, no qual, após a ampla divulgação de um caso de suicídio na mídia, pessoas susceptíveis ou sugestionáveis podem copiar o comportamento. Falar sobre suicídio de uma forma produtiva inclui quebrar preconceitos, desenvolver uma consciência de apoio mútuo e orientar que os pensamentos suicidas são passageiros e geralmente parte de um transtorno mental que possui tratamentos seguros e eficazes.

 

CEFET-MG: Para as pessoas que pensam ou já tentaram tirar a própria vida, onde e como elas podem obter ajuda? E no CEFET-MG, quais as formas de apoio à disposição dos alunos e servidores?

Psiquiatra: Nesses casos, é muito importante que essas pessoas tenham acesso a um profissional de saúde mental o mais rápido possível. Em Belo Horizonte, o acolhimento do SUS é realizado nos centros de saúde, nos CERSAMs e nos hospitais Galba Veloso e Instituto Raul Soares. No interior, existem também os CAPS, NAPS e equipes de saúde mental. Recentemente, ainda passamos a contar com um “Disque Prevenção ao Suicídio”, através do acolhimento gratuito por telefone, realizado pelo Centro de Valorização da Vida, através do número 188. No CEFET-MG, a Coordenação de Políticas Estudantis está presente nas diferentes Unidades e está aberta para acolhimento dos estudantes, contando com equipe multidisciplinar. Já os servidores podem procurar a equipe do SIASS e da Coordenação Geral de Políticas de Saúde no Trabalho, da qual eu faço parte, para terem o melhor direcionamento. Em quatro anos que sou psiquiatra desta Instituição, tive a oportunidade de acolher muitos estudantes e servidores e continuo à disposição para contribuir para um ambiente com mais saúde mental.

 

Secretaria de Comunicação Social/CEFET-MG